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Capítulo 1 - parte 4 - Um amor proibido







Parte 4

— Lembro-me como se fosse hoje. Eu fiquei paralisada olhando para ele e ele para mim. – Ela pegou minha mão e disse olhando bem nos meus olhos. — Um dia você saberá o que é isso querida, ouça-me – de repente ela ficou muito séria — não fique com alguém que você goste. Precisa amar e ter a certeza de que o sentimento é recíproco. Não aceite menos que isso entendeu? Se você casar gostando, não vai conseguir suportar as batalhas que certamente surgem na vida a dois. – Ela pegou minha outra mão e uniu ambas — O casal é como a mão direita e a esquerda. Uma precisa da outra, se você estiver no mar e tentar nadar até a praia com um braço só, talvez ficará nadando em círculos, se cansará e poderá morrer afogada. Entendeu Eliza?

Eu fiquei olhando para minhas mãos e sem querer pensei em Fernando, mas logo afastei o pensamento e voltei a olhar para ela. — Sim senhora! – Respondi parecendo um robô e ela logo voltou à história.

— Eu o cumprimentei, ele sorriu para mim e felicitou-me pela criança. Então naquele dia que cheguei com o braço engessado, Marcos ficou louco, disse que mataria meu marido por aquilo. Eu o proibi de fazer qualquer mal ao pai do meu filho, não por amá-lo, porque meu coração já pertencia a Marcos. Ao confessar meu sentimento por ele, nos abraçamos e nos beijamos. Mas por respeito a mim, cada vez que eu comparecia na consulta sempre tinha uma enfermeira junto. E assim foi, passei a ver o doutor quinzenalmente, uma vez para consulta de rotina do pré natal, e outra apenas para conversarmos. Meu filho nasceu de parto normal, pelas mãos dele. Dois meses depois voltei para me consultar. Ele queria me ver sabe, e eu queria muito vê-lo, meu coração doía de saudade e amor. Meu casamento ia de mal a pior, e uma segunda vez Antônio me agrediu, eu ameacei ir à delegacia, mas ele ameaçou tirar nosso filho de mim e sumir. Então eu e meu amado passamos a nos corresponder por cartas. Essas cartas são todas dele, deve ter umas cem ou mais aqui, cartas que recebi por um ano e três meses. Aqui nessa carta de envelope azul, ele marcou um encontro no consultório, eu consegui arranjar uma desculpa, para minha cunhada ficar em casa com meu filho. Eu estava tão nervosa, ansiosa e perdidamente apaixonada, ele propôs que fugíssemos. Mas, e meu filho? O que eu contaria para ele no futuro? Eu disse que não poderia fazer aquilo, e chorei, ele me abraçou e chorou também, disse que sempre me amaria. Então aconteceu! Nos beijamos com ardor, como se o mundo fosse acabar a qualquer minuto. Fomos nos despindo um ao outro, numa loucura e fizemos amor apaixonadamente, loucamente sabe.

— Então, a senhora engravidou dele? – Eu estava em choque, um misto de emoções contraditórias me inundava o peito, mas eu comecei a ver que ela não tinha culpa. O culpado era o marido dela, ele a levou a fazer o que fez. Ele deixou que ela se apaixonasse por outro homem. Eis a razão pela qual ela o chamou de negligente. Então eu comecei a compreender e não julgar. – E depois?

— Bem, no dia seguinte eu estava muito feliz e ao mesmo tempo preocupada. Meu marido naquele dia não chegou para o jantar. Ele chegou de madrugada, caindo de bêbado, quis ter relações comigo, mas eu não permiti. Isso deixou ele furioso e... ele saiu novamente, retornou no dia seguinte e fedendo. Depois daquele dia, Antônio caiu na bebedeira e para minha desgraça passou a dormir no outro quarto. Não tivemos mais contato sexual. Era na verdade um alívio, mas e se estivesse grávida de Marcos? Antônio não era um tolo, ele suspeitaria, e eu tinha medo que ele pudesse fazer algum mal contra mim só para atingir a criança. E então em uma manhã eu acordei passando mal, os incômodos confirmando minhas suspeitas. Eu estava grávida, esperando um filho do homem que eu amava. Em vez de sentir medo eu fiquei imensamente feliz.

— E o seu marido dona Cristina?

— Eu contei para ele que achava que estava esperando outro bebê. E que há um mês e pouco minhas regras não vinham. Ele ficou sério, confuso e eu encenei uma alegria que estava longe de sentir com medo que ele descobrisse a verdade. Felizmente eu consegui enganá-lo, mas não enganei o amor da minha vida. Fiz todo o pré natal com ele, que me atendia com tanto carinho, me enchia de agrados. Foi o melhor tempo da minha vida Eliza! Chegou o dia da criança nascer, Antônio estava agitado, falava um nome atrás do outro que daria ao outro filho mesmo sem saber se seria um menino ou uma menina. O parto foi um pouco complicado, tiveram que desistir de fazer um parto normal e me prepararam para uma cesárea. Uma das enfermeiras inocentemente disse que provavelmente a criança era grande. Como que um prematuro seria grande? Comecei a ficar nervosa. Durante a cesárea Antônio ficou na sala de espera, e soube que em silencio absoluto. Parecia que ele estava fazendo os cálculos, para ele a criança deveria nascer só dali um mês e pouco. Durante os nove meses eu fingi ter dores, para que ele realmente acreditasse que o bebê pudesse nascer prematuro. O meu amado estava ali, fazendo a cesárea, e quando ele tirou a criança e viu que era uma menina, ele não se conteve. Gritou a plenos pulmões que era uma menina, a equipe ficou sem entender. Ele não tinha filhos e era divorciado, e queria muito uma menina. Antônio ouviu toda a balburdia e invadiu o centro cirúrgico. Quando o médico o viu, os dois ficaram se olhando, então o meu amor mostrou a menina para ele. Media quarenta e seis centímetros e pesava mais de três kg. Antônio sorriu ao ver a menina e apenas disse “uma menina, uma prematura bem grande... e saudável”. E saiu da sala.

— Meu Deus dona Cristina, o que houve depois?

— Eu tive alta, mas ele não estava ali para me buscar com a criança. Então eu chamei um taxi. Porém Marcos não permitiu, e me levou para casa. Eu fui direto para a cama com minha filhinha nos braços. Enquanto eu a amamentava Antônio entrou no quarto, estava bêbado, e começou a dizer besteiras. Queria pegar Josefine, mas eu não deixei.

— Josefine é um nome lindo. – Eu disse com carinho.

— Sim, ela era linda, grande e forte como o pai e... cabelos louros. Três meses se passaram, um dia eu estava com Josefine nos braços no jardim, tomando sol. Antônio entrou no pequeno pátio, aqui, nos fundos dessa casa com nosso filho. Ele olhava para minha menininha e olhava para Eduardo, não havia nenhuma semelhança. Até que ele em fim disse “essa menina, está cada vez mais loura, e esses malditos olhos azuis?” Ele me ergueu pelos braços me colocando de pé com muita fúria, e queria tomar a bebê de mim, mas eu não deixava. Foi então que ele me empurrou com Josefine nos braços e caímos. Ela... ela bateu a cabecinha, morrendo na hora, oh Deus.

Dona Cristina chorava copiosamente, e abriu a pequenina caixa tirando de lá o que ela dizia ser o cordão umbilical de Josefine que ela guardou quando caiu. Estava com etiqueta que identificava o quarto e o número da cama que ela ficou, e abaixo a assinatura do médico, Marcos Perez.

— Eliza – ela me chamou com grande espanto nos olhos – me prometa, me prometa – a idosa repetia com grande agonia.

— Acalme-se dona Cristina, por favor.

— Não, prometa-me primeiro que a hora que eu morrer, você irá colocar isso – e pegando minha mão ela depositou a pequena caixa. – Você irá colocar a pequena Josefine comigo entendeu? Prometa-me.

— Sim dona Cristina, pode ficar em paz que eu prometo que farei isso. Sua querida Josefine estará com a senhora quando chegar a hora certa. No momento, vou lhe dar seu remédio e a senhora irá descansar.

Eu busquei o calmante dela e dei para que ela pudesse descansar um pouco e felizmente ela não negou. Em quinze minutos ela dormia com a respiração tranquila.


Continua...

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